Calcinha Preta



Sempre que pegava o celular de uma amiga para ver suas fotos – e nisso digo, os looks que ela havia usado na semana -, no meio de uma imagem ou outra, de uma combinação cheia de estilo, via cliques dela seminua em alguma pose sensual, mas nunca vulgar; fotos bonitas. Sempre me perguntei o porquê daquilo, e me indagava se teria tal coragem. Mas o que estava por trás daquelas poses, e caras, e ângulos, que eu não conseguia ver, era simplesmente paixão.

Já tive alguns relacionamentos na vida e, até então, nunca me vi olhando para alguém como essa minha amiga olhava para seu amado. Sempre admirei isso, mas nunca me vi em tal situação. Nem mesmo numa situação imaginária. Sempre estou em relacionamentos nos quais os brilhos nos olhos eu deixo por conta dele. Apesar de estar na eterna busca pelo príncipe encantado e, no fundo, saber que me sentirei totalmente realizada depois do “aceito”, vivo me protegendo de relações onde eu perca a noção da realidade e me sinta de alguma forma desprotegida.

Posso dizer que já amei, uma vez, mas amei. No entanto, paixão, não. Nunca me deixei a
paixonar. Nós reclamamos do amor, mas acredito que o perigo está na paixão. A paixão te cega, faz você acreditar que ele não te ligou porque perdeu seu número, que não apareceu porque sofreu de alguma forma um trauma. Ela te faz acreditar que ele não teve tempo de te mandar um sms sequer, dizendo que estaria ocupado. Que, realmente, aquele dia que saiu com a ex, agora, não tem nada a ver, e que a bateria de seu celular ter acabado justo nesse dia não passa de coincidência.
 
A paixão faz você pedir desculpas ao final de uma discussão, onde o outro está nitidamente errado. Existe paixão, existe amor, e existe paixão com amor, e ponto. Algumas pessoas veriam essa última opção como algo sublime. Eu sempre vi como perigosa. Mas deixe-me chegar ao ponto onde as coisas mudam de lugar...
 
Ontem fui à casa do meu namorado, onde sou sempre muito bem vinda por toda sua família e minha filha é sempre motivo de festa pra eles. Assim que o vi, todo aquele caminho de Sol, enfim, valeu a pena. Por muito tempo observei meus dois amores brincando, enquanto, sentada, tomava café e conversava com seus avôs.
 
Mais tarde, nos abraçamos e ficamos assistindo vídeos de humor. Não me pergunte sobre quais piadas aquele comediante desconhecido contou, ou qualquer outro vídeo que ele me mostrou, pois, naquele momento, só conseguia pensar no seu rosto e no seu pescoço ao alcance dos meus lábios, e como gostaria que o tempo não passasse.
 
Depois de toda a tarde descrita, finalmente coloquei meus pés no chão e voltei para casa com a minha pequena. Descobri que passaria o fim de semana sozinha ou o resto de final de semana que sobraria. Tomei banho, fiz meu café corriqueiro antes de dormir e fui me deitar. Decidi que estava muito calor, até mesmo para minha camisola. Já que estaria sozinha, não teria porque não dormir só com as roupas debaixo.
 
Ao entrar no meu quarto, me deparo com meu espelho, que fica em frente à minha cama. Parei e me olhei por alguns segundos. Finalmente, me senti bonita, mesmo sem nenhuma roupa que escondesse qualquer imperfeição e só mostrasse as qualidades de meu corpo. Me encontrei desprotegida, mas foi ali, naquela calcinha preta, que achei meu amor próprio e descobri a paixão. Estar em frente de um espelho só de calcinha e sutiã e, ainda sim, tirar uma foto para se exibir para ninguém.
 
Paixão é brilho nos olhos e justificativa válida para este tipo de ação, é frio na barriga, é acreditar na vida. Paixão é tanto amor, que você transborda para o outro, quanto o que sobra até para amar a si próprio.

Meu futuro marido



Eu sei que nos vamos nos casar, porque na primeira vez que conversamos você me pediu em casamento e eu aceitei sem mesmo saber seu segundo nome. Por que descobrimos semelhanças e tornamos disto um jogo, revelando nossas personalidades, quase como um desafio. Você me chamou de linda, eu corei, e acabei me sentindo linda aquela semana. Por que no segundo dia já estávamos ouvindo musicas para lembrar um do outro, e meu respirar fundo se tornava suspiro quando pensava em você. Tu até assiste filme babaca de mulher, e acha meu filme preferido divertido; Eu gosto de terror bem trash, que são os seus favoritos. E antes de sermos olhares, já éramos vozes e nós riamos da breguice do mundo. E no meio dessas risadas, surgiram sorrisos e suspiros, e saudade do que não conhecíamos, e eu já sabia que íamos nos casar.

E logo veio o primeiro encontro, eu aprendi a viver com o frio na barriga. Foi a primeira vez que sobrevivi ao seu abraço. Você gostou do meu olhar e eu me apaixonei pelo seu sorriso, e eu já tinha certeza que um dia iriamos nos casar. Foram dois dias e meio de vergonha até nosso primeiro beijo, que resultou em dias inacabáveis de espera pelos próximos. E os suspiros começaram a se prolongar pelo dia todo, pela semana inteira. Comecei a sorrir atoa, e cantar atoa, e dançar atoa, e assim, quase atoa surgiu o primeiro eu te amo.  Você aceitou minha insegurança e entendeu, e falou comigo de forma tão segura que me trouxe calma e me fez leve. Nunca fui tão leve e tão calma, e acredite, até segura. Até te mando ir, mas tu não vais, tu ficas e porque quer, e eu também quero e quero pra sempre porque sei que um dia ainda vamos nos casar. 

Eu peço pra tu se mudar pra debaixo da minha cama, e tu me manda foto de pijama. Nós falamos do futuro, mas sem brincar de casinha. Descobri que metade, não precisa ser oposta e que quando igual, fica até melhor. E nos tornamos nós, e seremos sempre nós. Por que eu sei, que um dia, nos ainda vamos nos casar. 

Utopia



Me coloquei a listar seus defeitos, na verdade me coloco a fazer toda hora, as vezes quase automaticamente quando passa por mim, inclusive quando percebo, já estou a lista-los novamente, como um plano de fundo da minha mente. Geralmente vou até o item cinco, às vezes invento alguns para poder aumentar a lista. Afirmo não ser homem pra mim, digo que mereço e consigo alguém bem melhor. O importante é sempre repetir.

Ao mesmo tempo queria que lesse tudo que escrevo de ti. Como gostaria que percebesse o brilho dos meus olhos que é o reflexo da tua presença.  Como gostaria de ser transparente para que visse todos meus pensamentos que levam teu rosto, teu nome.  Como gostaria que fosse assim transparente e conseguisse ver cada gota que leva minha essência dentro de você.  E me disse que eu faço o tipo misterioso e eu achei engraçado, pois não sou o tipo de mulher que faz tipo. Mas foi naquela noite descobri que talvez tu faças o meu. 

Você me faz esperar, consegue tirar minhas esperanças e me fazer sua com apenas um sopro.  E continuo sem entender, pra que me guardar se pode me usar. Por que manter um segredo se ele já está revelado. Eu não quero que seja meu, eu só quero ser sua. Quero que me tome e aperte meu coração que ameaça explodir toda vez que ouve seus passos. Ambos sabemos que isso não é pra dar certo, mas eu quero errado. 

Já com um nó na garganta fui procurar aquele que tanto me conhece. Me aconselhou a procurar outro sorriso. Encontrei com olhar diferente do seu, para não correr o risco. Conversamos e me chamou pra sair. Parei e pensei, não é você! Não respondi, deixei no ar. Vou esperar você tomar coragem ou tomar sumiço. Prefiro café, e você também; mas com abraços, olhares, sorrisos e sua mão na minha cintura, e duas colheres de açúcar. Medos e manias, e a indiferença tua. Chega, está decidido, vou tomar silencio, e esperar...

Cheiro de chuva



O problema é a Paulista com chuva. O problema é o cheiro de cigarro e o cheiro do meu cabelo. O problema é que voltei a ouvir Misfits essa semana. Não, o problema definitivamente é o Starbucks de esquina. O problema foi eu ter guardado o anel, mas ter jogado o colar fora. O problema é vez ou outra eu conseguir te ver me abraçando e chorando na sala a noite. O problema foi ela ter terminado contigo. Nós deveríamos ser amigos, mas decidimos errado. Eu tenho medo de ter sido injusta mas o problema é teu egoísmo, e eu só tenho protegido um coração valioso. Sim, a culpa é ...... Esquece, é só a Paulista com chuva.
 
© Copyright - Mariely Abreu - Design e Codificação - Todos os direitos reservados Voltar ao Topo!