A parte censurada



Acordei num anseio, que há tempos não sentia. O relógio não andava, então decidi começar meus preparativos antes da hora, pra ver se assim, a hora corria. Pensava há quanto tempo não me via e quanto tinha mudado por dentro, e que isso, nitidamente se refletia por fora. O coturno foi substituído por sapatilhas graciosas, camiseta rasgada, por camisas leves, de poá e a calça rasgado, ou o short curto e destruído, por saias não mais que em cima dos joelhos.  Sentia minhas mãos tremulas e geladas, e o riso irônico já tomava conta da minha face.

Sai de casa com a esperança de um grande dia, já que tudo até ali mostrava que seria. Foram tantos pensamentos embasados enquanto meus pés percorriam aquele caminho, que acreditava que seria aquele que me levava ate você. Desisti e me convenci diversas vezes enquanto atravessava aquele parque.

Você não estava onde imaginava, e isso me pegou de surpresa, pois então seria eu que o veria chegar, e tudo que estava fora do que imaginara me causava calafrios.

Ouvi voar com o vento, comentário que me fazia acreditar que já estaria no horizonte de minha visão se olhasse pra frente. Preparei-me por dias para aquele momento, que meus olhos lembrariam como é passa-los por você, e mesmo que me preparasse por anos numa terapia intensiva, o resultado seria o mesmo.

A coragem enfim apareceu talvez alimentada pela curiosidade, e pude assim olhar pra ti. Lembrei que era toda beleza que meus olhos já viram, que era todos meus arquivos do que é belo em uma unica pessoa. Paralisei, assim como ao te ver pela primeira vez e não acreditar que seria possível existir. “O menino mais lindo do mundo.” Devo lhe parabenizar, ainda possui tal titulo, para meu desespero.

Achei que tudo já estava perdido, quando vi um sorriso disfarçar a lagrima que rolava em seu rosto. Então me descobri ainda mais perdida em tudo aquilo, que numa hora dessas já andava como uma propaganda em um outdoor, só que ao invés de um muro alto, se instalava no meio de minha testa. Tantos já leram, e eu mesma, evitava o espelho pra não ver tal verdade por entre minha franja. “Nada disso é sobre você”, mantive esse mantra na cabeça.

As memorias já estão um pouco distantes na minha memoria, mesmo que eu refaça aquele dia em todos meus devaneios desde então. Lembro-me de ver suas mãos e tanta vontade tive que conter, pois queria segura-las, como uma namorada na infância, que acredita que segurar as mãos é toda prova de amor que existe no mundo. Naquela tarde pude sentir por algumas vezes seus olhos pousados em meu rosto, fiquei com certa inveja, pois não conseguiria fazer o mesmo. Mal conseguia levantar meu olhar, imagine pousar em seus olhos. Fiquei com medo do que nossos olhares conversariam.  E tanto tinha pra falar, mesmo que não diga nem em voz alta nos meus pensamentos.

Dancei com folhas, senti o vento e a poesia voltar em mim. Posso reescrever esse texto mais de mil vezes, e continuarei me inspirando com essa historia. Você é a musica leve no fundo da minha cabeça, você é o suspiro, minha vontade de ganhar rosas e conhecer Paris. Você é todo romance que ainda existe.

Tentei me manter “cool”, mas sei que meus olhos gritavam. Chegou a hora da despedida, e nada pude fazer, já que não poderia perder a sanidade e a pose que a tarde inteira tentei construir. Sei que não seria capaz de te soltar do abraço, nem mesmo do toque, por ser um adeus sem data de validação.

Senti uma euforia, misturada de tristeza e alegria, tanta confusão que de tanto sentimento, mais nada senti. Sigo anestesiada, com a esperança de um dia pelo menos ainda tenha único suspiro, dessa menina poeta que encontrasse perdida, que vê romance no ar que te envolta, e em sonhos, só clama por ti.

Veneza



Estou com saudades do seu xadrez. Esse ambiente tem me feito mal, junto com a falta de notícias suas.

É como se eu estivesse vivendo você de novo, e eu refiz todos os nossos passos, até sentei no mesmo banco. Então pude ouvir a música, mas acho que ninguém mais ouviu.

Quase consigo ver você novamente na minha frente e dizendo que amor pra vida é aquele que conversa. E então iríamos pra minha casa, que já não é mais minha. Ou iríamos passar pela estrada verde que eu sinto tanta falta. Esse poderá ser meu próximo roteiro, se meu amigo concordar em caminhar novamente seus passos, só porque eu preciso e ponto.

O vento é leve e me lembra outubro, me lembra o seu vermelho. Me traz o cheiro, o riso e o toque. E eu contei novamente nosso poema francês, com um gosto de cigarro na boca.

Acho que talvez não seja falta de você, seja falta do que eu era. Talvez eu precise te encontrar de vez em quando em mim, pra poder lembrar quem eu sou.

Minha Fortaleza



Eu tenho medo da minha certeza. Tenho medo de me apoiar demais, e lembrar da pior maneira que pra se apoiar, você precisa de um apoio.

O pior de idealizar alguém como seu chão, é que você cobra segurança, e de tanto cobrar,  você acaba rachando sua firmeza. E para quem já teve o mundo destruído uma vez, um sopro é ventania.

Hoje eu tento me entregar,  sempre mantendo um pouco de mim guardado, pois assim,  mesmo que meu mundo acabe novamente, eu sempre vou ter um pedacinho de terra pra plantar um novo começo.


Quando eu olho para trás na minha vida 
Não é que eu não quero ver as coisas exatamente como aconteceram 
É só que eu prefiro lembrar delas de uma forma artística 
E sinceramente a mentira de tudo isso é muito mais honesto, porque 
Eu inventei 
A psicologia clínica nos diz, sem dúvida, que o trauma é o assassino final 
Memórias não são recicladas como átomos e partículas na física quântica 
Eles podem ser perdidos para sempre 
É mais ou menos como o meu passado é uma pintura inacabada 
E como o artista dessa pintura 
Devo preencher todos os buracos feios 
E torná-la bonita novamente 
Não é que eu tenha sido desonesta 
É só que eu detesto a realidade.
(Lady Gaga)
 
© Copyright - Mariely Abreu - Design e Codificação - Todos os direitos reservados Voltar ao Topo!